Recentemente eu tenho me questionado se a idéia de frustração não seria, em si, inevitável. Sim, porque, querendo ou não, por vezes vemos os nossos planos frustrarem. Quanto mais pensamos no assunto, mais a idéia de que não podemos ter tudo que almejamos invade nossa mente, v. g., freqüentemente leis perdem sua eficácia, casamentos são desfeitos, guerras mostram-se inevitáveis e pacientes morrem em hospitais. Porém, acreditar que a frustração “é coisa do destino”, como argumentam alguns, é admitir nosso total descontrole e futilidade. Não é de se supor que o homem, maravilhosamente criado, ficaria a mercê do acaso. Se assim fosse, nada precisaríamos fazer, nada poderíamos mudar.
É verdade que algumas dessas frustrações cotidianas afloram com mais vigor em determinadas áreas e situações. Um advogado, por exemplo, talvez se sinta frustrado quando a sentença lhe é desfavorável. Um médico, porém, frustra-se mais profundamente, apesar de estar treinado para as decepções, quando seu paciente morre, mesmo fazendo tudo que estivesse ao seu alcance. De todas as frustrações inevitáveis, talvez a do enfermeiro seja a mais difícil de superar.
A nobre tarefa de cuidar de um semelhante proporciona grande satisfação. O médico, por vezes, apenas trata da doença, mas o enfermeiro, injustamente relegado ao segundo plano, é quem cuida, quem leva consolo, dedica maior tempo com o paciente e desempenha um papel primordial nos centros de saúde. O filme Patch Adams, o amor é contagioso, mostrou, sutilmente, o papel fundamental das enfermeiras. E há uma relação entre a Enfermagem e o Direito.
Após tentar o suicídio, o personagem Patch Adams voluntariamente se interna em um sanatório. Com a ajuda de um incidente com seu companheiro de quarto, Patch Adams sente acender o desejo de ser médico para poder ajudar as pessoas. Após se formar, seus métodos poucos convencionais, de usar o amor e a paixão pela profissão e o interesse sincero pelos pacientes, a quem ele chama pelos nomes, como instrumentos para amenizar a angústia de pessoas hospitalizadas, causam inicialmente espanto, desconfiança e ciúme dentro da própria classe médica. Mas, no final, acaba conquistando a todos e ganhando a admiração dos que antes o ignoraram.
Tal como um enfermeiro, o advogado zeloso e competente precisa muito mais do que apenas conhecimento. Por maior que seja seu cabedal, amor e paixão pela profissão são essenciais. O enfermeiro dedicado precisa, antes de tudo, “ser mãe” do paciente. Na relação jurídica, o juiz decide os resultados de um demanda, mas é o advogado quem tem o cuidado de orientar e reanimar o cliente, renovando suas esperanças diante de uma situação desesperadora; muitas vezes, com empatia, com o uso de palavras corretas, visando “salvar” o seu cliente de sua angústia diante de uma injustiça.
É preciso entender além da causa de pedir. O cliente necessitado de orientação jurídica apresenta sinais, sutis, muitas vezes, de angústia. É o advogado indo além do problema. Muitos esperam, antes mesmo de uma resposta técnica, com vocabulário rebuscado e excessiva formalidade, uma palavra de consolo, de esperança. É bom lembrar que um problema muitas vezes também afeta toda a família.
Quando incumbido da penosa tarefa de informar o paciente que está acometido de uma grave doença o enfermeiro deve fazê-lo de modo menos gravoso ao paciente, com tato, com amor. O mesmo serve para o advogado. Embora não caiba ao advogado o controle sobre as decisões do magistrado, é seu dever informar seu cliente dos riscos e, com cautela, do resultado desastroso que poderá lhe sobrevir, procurando causar-lhe, se inevitável, menor prejuízo.
Um enfermeiro deve sempre ser franco com o paciente, e falar a verdade, escolhendo a melhor ocasião, ainda que a situação seja grave. Da mesma forma o advogado, porque nem sempre uma sentença favorável significará solução do problema.
É por demais egoísta pensar que o exercício da advocacia só será gratificante à base do sucesso que conseguir. O importante é a satisfação de um trabalho bem cumprido, de um cliente bem orientado, uma causa bem resolvida. O advogado também pode obter sucesso em vista do que faz pelos outros, não apenas à luz daquilo que faz por ele mesmo em matéria de dinheiro.
Devemos gratidão pela atenção e dedicação de tantos enfermeiros e enfermeiras espalhados por todo o Brasil, sem os quais as internações hospitalares sem dúvida seriam muito mais difíceis, se não impossíveis! Da mesma forma devemos ser gratos pelo sério trabalho das Defensorias Públicas. Profissionais dedicados, fazendo sempre o melhor que podem a fim de evitar as injustiças tão comuns, infelizmente.
Hoje, sem dúvida, me sinto um pouco frustrado. Não por optar pela apaixonante carreira jurídica, mas sim porque, só agora, no 8° período, percebi que, antes de um vasto conhecimento de leis, mais importante é o amor pela profissão, e isso envolve amar e respeitar as leis, os promotores, juízes e os clientes. Que bom que todos nós, advogados ou não, tivéssemos um pouco de Patch Adams dentro de nós! (Por Bruno Soares de Souza - Acadêmico de Direito). Fonte:
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