segunda-feira, 14 de abril de 2008

Defensores Públicos. As reses e o tronco, por Enir Madruga de Ávila

23:41 |

A política tem sua ciência.
O campo também.
Quando o pampa não tinha alambrado, bastava um tiro de laço para a rês ser dominada e trabalhada.
Hoje, há mangueira, brete e tronco.
Para se construir esse conjunto é necessário observar uma regra: o gado xucro sempre quer voltar para o lugar donde veio.
Por isso, brete e tronco devem ter a saída apontada no sentido do local de onde veio o rebanho. A rês entra na mangueira, é manejada no sentido de origem e conduzida ao horizonte livre. Porém, a concessão deste está condicionada à passagem pelo tronco.
O gado acaba assimilando a intenção do homem, entra no brete, passa pelo tronco (nele permanecendo por alguns minutos) para, enfim, ganhar novamente a liberdade do campo.
O “tronco” herdou o nome do tronco onde eram acorrentados os escravos, forma rudimentar (mas eficaz) de se subjugar outros homens (e hoje, os animais).
Mas não basta encerrar o gado na mangueira para ele ir logo entrando no brete, rumo ao tronco. Não. É preciso que a peonada dê uma mãozinha. Então, um índio a cavalo entra na mangueira, enquanto outros, pelo lado de fora, ficam, à moda guizo, “ensinando” pra gadaria o caminho de volta ao potreiro.
A maioria das reses, pelo bem, ou pelo mal, acaba ingressando no brete. Daí em diante, subjugá-las à força do tronco é barbada.
Ali, onde está postado o patrão – manejando o tronco -, a rês é imobilizada.
Assim, faz-se praticamente todo o trabalho com muito mais facilidade do que antigamente.
E com uma vantagem: depois do animal vacum aprender uma vez o caminho do brete (e do tronco), as outras são facilmente assimiladas pela rotina.

Mas o que a lição do campo tem a ver com a ciência da política?
Nesta parábola, tudo.
A gadaria xucra somos nós, defensores públicos; a peonada, parte da Assembléia Legislativa (metade dela para ser bem preciso) e o gabinete da Casa Civil. O patrão? Ora, a Governadora do Estado, por certo.
E o tronco?
O tronco é a tentativa de subjugar a instituição e seus agentes através da afronta à autonomia assegurada constitucionalmente; é o aviltante parcelamento dos salários há mais de doze meses; é a quebra do comprometimento, pela governadora, da aprovação da verba de representação; é, por fim, a desmoralização pública dos defensores públicos através da manutenção do veto ao subsídio com a quebra de tradicional acordo de lideranças partidárias no seio da Assembléia Legislativa, por meio de subterfúgios politiqueiros.

Mas ainda não vos contei tudo a respeito da ciência do campo.
Se, é bem verdade que a maioria das reses tem a passagem pelo tronco forçada, também é verdade que aquela que pula o arame da mangueira – por mais esperta que o patrão e a peonada -, não será subjugada pelo tronco por que, como o gaúcho, aprendeu o atalho para filiar-se à liberdade.
Defensores Públicos! Sejamos como a rês que aprendeu o atalho. Permaneçamos unidos até a vitória.

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante a metáfora das rezes e do tronco, criada pelo ilustre Defensor Público Enir Madruga. De fato, a maioria das pessoas dilui-se num rebanho de alienado reponte, por não se enxergar cidadã e, por conseguinte, capaz de desenhar um horizonte melhor para todos. A “consciência de classe” – tão bem filosofada por Karl Marx -, graças à consagração do direito de greve, saltou dos bretes das ideologias para ganhar os corações dos trabalhadores a exemplo dos defensores públicos, uma valorosa categoria de profissionais que garante aos necessitados de dignidade a acessibilidade à Justiça.