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De longe se via o rancho,
Parecendo ser tapera
Mas, que, de fato, não o era
Já que nele havia gente
Na varanda, bem na frente...
Um homem de brancas melenas
Ensimesmado com as penas
Brotadas da seca inclemente.
Por quê? A si perguntava,
Aquele senhor já tordilho:
Por que será que meu filho
Não quis esperar o aguaceiro
E se foi para o povoeiro
Onde as luzes cintilantes
Levam até mesmo, por diante
Quem se criou nos potreiros.
E a patroa? Foi com a filha
Dizendo já estar cansada
Desta terra empoeirada
Onde a roupa nunca ´lava´
Pois a vassoura de piaçava,
Com suas fibras de palmeira,
Ao varrer, levanta poeira
Disso, ela, não gostava...
Será que ensinei algo de errado
Para lhes faltar persistência
Ao deixarem, na minha querência
Os arreios, por adorno
E no pátio, em seu entorno
Velhas cangalhas jogadas
Ou senão, dependuradas
Nas paredes, sem contornos.
Tristemente, Ele se dá conta
Que a seca o deixou sozinho
Pois os Seus, sem ter carinho
Deixaram os aperos atirados
Em galpões empoeirados
Com esporas sem encargo
Onde o mate é mais amargo
Porque se toma com espinhos.
Mesmo assim, persiste o velho...
Não abandona sua casa,
Pois igual ao ferro em brasa,
Tem em si, como um preceito
A crença de que um rio, em seu leito
Sem um galho do nativo ´sarandi´
Impede de salvar-se quem ali
Inventou de botar o peito.
Se a estiagem tanto castiga
Fazendo do verde, cinzento
Pensa o ancião - naquele momento:
O clima também há de mudar
Por isso, vou esperar
Até que o tempo se arme
E, assim, de repente, sem alarde
O verde haverá de voltar.
Tão logo, isso decide
Sente roçar-lhe a camisa
Pelo vento norte, cuja brisa
Prenuncia ´água do céu´
E, tirando o seu chapéu,
Em tom de agradecimento
Olha para o firmamento
Feliz por não ter saído ao léu.
É que nas intempéries da vida
Há sempre o dia seguinte
E não há quem, sendo ouvinte,
Não escute, da natureza, a voz
E isso também serve para nós
Que, muitas vezes, desistimos,
Sem levantar, quando caímos
Parecendo rio sem foz.
O importante é que a seca
- Mesmo a mais inclemente,
Não mata sequer a simples vertente
Do fio de água, que nos dá a vida
E que, por vezes, escondida
Nos recônditos de algum capim
Faz lembrar que dentro de mim
Também a ´estiagem´ é sentida.
Mas assim como a chuva
Que à seca vai um dar fim
Espero que, para mim
haja verdejantes dias
e que ela, que me traz melancolia
como nos tristes ventos de agosto
não tire de mim o gosto
pelos tempos de alegria.
E aquele senhor, de melenas alvas
que, sendo forte, ficou
vê a chuva agora cair, e ri do que passou
porque de sua perene alma,
tal como da vertente calma
jorram rios de felicidade
por ter mantido a identidade
do lugar donde brotou.
Por essas razões, lhes digo:
A esperança é como a vertente
Que irriga a alma da gente
Ajudando a apagar cicatrizes
Para que fatos de quaisquer matizes
Não façam da vida uma ´estiagem´,
Sendo a seiva da coragem,
Para afirmar nossas raízes!
Autor: Waldemar Menchik Júnior
1 comentários:
Sou completamente suspeita quando se trata de comentar qualquer tema relacionado ao Waldemar. Mas, vamos lá. Afora a imensa capacidade jurídica, a postura firme e a retidez de caráter que bem definem o querido colega Waldemar, sua veia poética empolga e, não fosse eu também defensora pública, me atemorizaria. Como enfrentar em um embate processual um adversário desse quilate?
E, de outro lado, em momentos como os de entao, os versos de Waldemar vêm a calhar:
Mas assim como a chuva
Que à seca vai um dar fim
Espero que, para mim
haja verdejantes dias
e que ela, que me traz melancolia
como nos tristes ventos de agosto
não tire de mim o gosto
pelos tempos de alegria.
Grande abraço, Virginia Ghisleni
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