sábado, 19 de abril de 2008

As algemas e o sigilo (publicado no ´Jornal das Missões´, de Santo Ângelo, em 29.3.2008), por Waldemar M. Júnior

21:52 |

Dois fatos recentes, aparentemente desconectados, chamaram a atenção dos cidadãos gaúchos nas últimas semanas: em primeiro lugar, a exposição pública de oito dirigentes dos CPERGS, algemados, e, que, salvante algum excesso verbal, estavam reivindicando aquilo que até mesmo as pedras sabem que lhes faltam e que lhes é devido, ou sejam, remuneração digna e condições de trabalho. O segundo fato é o de que vários dos deputados estaduais governistas tudo têm feito para impedir o bom andamento da CPI do DETRAN, que busca descobrir o tamanho da falcatrua praticada por alguns ´colegas de partidos´ desses ´legisladores´ que lutam para manter o sigilo, evitando que os gaúchos saibam, afinal, quem são os políticos envolvidos e o grau do envolvimento de cada um.

Uma leitura mais detalhada de tais fatos, porém, mostra-nos que eles estão umbilicalmente ligados, e que as algemas colocadas nas mãos dos injustiçados professores têm a mesma espessura e medida daquelas que poderiam estar envolvendo os punhos de quem, sigilosamente (ou não), surrupiou, ao que se comenta na Imprensa, mais de R$ 40.000,000,00 (quarenta milhões de reais) dos cofres públicos estaduais. O triste disso tudo, é que o mesmo governo que, pela voz da maioria dos seus deputados aliados, brada aos quatro ventos que não há verba para atender as reivindicações dos servidores do Executivo, trabalha de forma incessante para manter em sigilo o nome e o grau de envolvimento de antigos (ou atuais) parceiros de campanha, nesse mais novo (talvez nem tanto) desfalque gaúcho. Interessante é que, se, de fato, houve o delito, talvez a recuperação dessa montanha de dinheiro pudesse ajudar o governo a cumprir com suas obrigações constitucionais, o que demonstra existir, no caso, grave dicotomia entre o discurso e a prática, já que o governo deveria ser o primeiro a buscar o esclarecimento dos fatos.

Mas, o mais intrigante disso tudo, é que a chefe do Poder Executivo, sem que ninguém a acusasse, disse, há poucos dias, em tom descontrolado, referindo-se à oposição, que ´eles estão querendo chegar no gabinete da governadora´. Causou surpresa tal manifestação, já que, até aquele momento, nada havia sido dito em relação à atual ocupante do Palácio Piratini. É por isso que o sigilo não deveria haver sido imposto a uma investigação tão relevante que, pela via oblíqua, poderia fazer com que as algemas fossem retiradas dos punhos dos injustiçados educadores e, quiçá, colocadas nas mãos de prováveis larápios de colarinho branco, que uma AL comprometida, pelo seu silêncio suspeitoso, protege com unhas e dentes. De acrescentar, ainda, que o Dep. Ênio Bacci, ex-Secretário de Segurança Pública do atual governo, ao ser demitido pela mandatária-mor do RS, trouxe a público denúncias sobre irregularidades no DETRAN e, ao que parece, não foi iniciativa do Piratini a investigação acerca dos fatos, o que só ocorreu, mais uma vez, pelo eficiente trabalho da PF. Não houvesse isso, os ´preparados e ilibados´ - pretensos - donos do DETRAN, que engendravam fazer da coisa pública um caminho facilitado de enriquecer às custas do sofrido povo gaúcho, já teriam implementado outro projeto gestado por alguns daqueles cujos nomes ainda estão protegidos pelo sigilo conivente: o da inspeção veicular. Fica a pergunta: quem será que ganharia milhões com essa ´invenção´ da inspeção veicular? Diante dessas impressões perfunctórias, resta clamar aos sensatos: Por favor, tirem as algemas dos punhos dos professores. Elas devem ficar desocupadas, já que, se houver o rompimento do sigilo, poderão ser bem mais úteis em punhos que não se ocupam da educação.

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