sexta-feira, 6 de junho de 2008

Minha Trajetória nos concursos - Cristiano Vieira Heerdt é defensor público

21:14 |



Carta Forense - Em que momento decidiu se enveredar pelos concursos públicos?Cristiano Vieira Heerdt - Os concursos públicos, além de possibilitarem uma carreira mais segura e que tem um importante papel social, constituem uma forma de se testar e aferir o nível de preparo de quem se submete a eles. Diante disso, decidi fazer o concurso para a Defensoria tão logo anunciado que haveria o primeiro concurso para o cargo de Defensor Público do RS, em que pese estivesse advogando de forma regular. Como era o primeiro concurso, havia 5500 inscritos e para mim foi um verdadeiro desafio.. CF - Quando iniciou seu preparo? Qual metodologia usou?CVH - Um ano após minha colação de grau, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, resolvi cursar a Escola Superior da Magistratura, em Porto Alegre. Achei que era importante não apenas como preparação para concursos, mas para complementar o curso superior que havia realizado. Trabalhava durante o dia e freqüentava as aulas à noite. Quando fiz o concurso para Defensor Público, em 1999, já não estava mais cursando a ESM, mas segui estudando à noite, por conta própria. CF - Quanto tempo demorou para ser aprovado no primeiro concurso?CVH - Após a conclusão do curso superior, demorei cerca de 02 anos para ser aprovado. Foi o primeiro e único concurso nível superior que realizei.. CF - A Defensoria Pública sempre foi seu foco principal?CVH - Sim. Como exerci a advocacia particular por 05 (cinco) anos, sempre tive uma predileção por uma carreira pública que tivesse uma identificação com a advocacia. Embora considere interessantes outras carreiras jurídicas, sou apaixonado pelo que faço.CF - O senhor sofreu alguma cobrança de familiares e amigos peloresultado pretendido?CVH - Não. Meu pai é desembargador aposentado. Mesmo assim, respeitou a minha decisão de escolher a Defensoria Pública. Ele lamentou minha saída do escritório de advocacia, pois éramos sócios. Mas sempre me incentivou e nunca me orientou a seguir outras carreiras.CF- Depois de aprovado, como foi sua rotina de defensor recém empossado?CVH - Desafiadora e instigante. Logo nos primeiros dias passei a trabalhar em áreas que não tive contato algum durante o curso de Direito, como infância e juventude e execução penal. Por isso, a carreira tornou-se muito interessante, em que pese o volume de serviço. A experiência de vida adquirida durante o exercício do cargo é inigualável. CF - Que atividades já exerceu como defensor público?CVH - Atualmente estou licenciado. Licenciei-me em 2006 para exercer a presidência da Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul. Assumi em 2002 e trabalhei, por um mês, junto aos Juizados da Infância e Juventude da Comarca de Porto Alegre. Após, fui designado para trabalhar numa comarca da região metropolitana, na área penal. Depois de seis meses na Defensoria, classifiquei-me numa comarca do Interior. Atendia à população, participava de inúmeras audiências judiciais e fazia visitas a estabelecimentos prisionais. CF - Qual foi o momento mais engraçado ou curioso da sua carreira até agora?CVH - Tive muitos momentos engraçados, principalmente durante audiências judiciais. Porém, o momento mais curioso ocorreu quando uma vovó foi presa por dívida de alimentos. A neta havia pedido a prisão da avó e a juíza determinara a prisão. Ingressei com uma medida judicial e consegui a revogação da ordem. O fato teve repercussão nacional e o assunto passou a ser discutido no meio acadêmico. CF - E o mais triste?CVH - Também tive vários momentos tristes. A sensação de impotência às vezes é muito grande. Certa noite passava na frente do prédio da Defensoria e percebi uma senhora sentada debaixo da marquise. Parei e perguntei-lhe o que fazia ali aquela hora. Ela me respondeu que precisava uma ficha para ser atendida pelo defensor público, pois precisa ingressar com uma medida judicial e obter remédios para o filho doente. Não pude conter a emoção. Ela iria passar a noite para conseguir uma ficha, pois naquela época as filas eram imensas.CF- Quando um acadêmico ou bacharel toma a decisão de ingressar numa carreira pública, qual o primeiro passo a ser dado?CVH - Aproveitar ao máximo o curso superior e, se possível, matricular-se num curso preparatório. Porém, antes de decidir qual carreira, é necessário conhecê-la a fundo. As carreiras públicas têm funções sociais diversas e de extrema importância. Para melhor desempenha-la é preciso identificar-se com ela. CF- O que deve esperar o concursando na hora de optar pela carreira naDefensoria Pública?CVH - Paixão e desafios. A carreira de Defensor Público é, de fato, apaixonante. Isto se dá em razão da experiência de vida e do amadurecimento que ela proporciona. Porém, os desafios são enormes, a começar, muitas vezes, pela estrutura de trabalho e pela falta de reconhecimento que ainda existe no Brasil.
Fonte: Jornal Carta Forense

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